quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Em algum lugar do passado ( Texto publicado na revista Moto Adventure Fev/2013)

A procura das pinturas rupestres

Final de feriadão (Proclamação da República) ganhei meu alvará de soltura conjugal-familiar para mais uma aventura motociclistica pelas estradas que me fossem atrativas. Pesquisei alguns lugares e achei interessante a proposta de visitar Castro no Paraná. A proposta seria visitar a cidade e o canyon do Parque Guartelá bem próximo a cidade de Tibagi. Neste parque oficializado em 1992 como uma área de preservação do Estado do Paraná estão as famosas pinturas rupestres que eu estava procurando visitar há algum tempo. Junto de formações rochosas de arenito, passa pelo canyon o rio Tibagi. Aventura para os visitantes. Vários passeios podem ser programados com equipe especializada.
Estrada no PR com rios por toda parte.
Saí em uma Segunda-feira entre feriados o que facilitou um pouco o trânsito. Segui com destino a divisa de estado entre Itararé (SP) e Sengés (PR) pois achei algo que me interessava. Localizei nas fotos do google maps um outro canyon entre estas duas cidade. A dificuldade é que a região não esta bem explorada para o turismo. Apenas os moradores locais tem o hábito de frequentar a região para lazer entre cachoeiras. Naquele local a internet nem sonha em funcionar por isto tive de perguntar dicas aos moradores.Nada de consultas tecnológicas.

Canyon em Sengés

Minhas impressões da estrada até Itapeva (SP) foram muito boas. Apenas a imagem ainda não era agradável ao turista viajante de moto. Eu particularmente procuro o céu azul e visual de campos ao lado de uma estrada muito bem asfaltada e vazia . Minha particular utopia. Mas foi o que eu encontrei passando Itapeva (SP) . A estrada estava ótima e as paisagens só melhoravam. A diferença de antes de Itapeva estava no comércio de beira de estrada que deixava minha utopia um pouco poluída . Chegando em Sengés segui por uma estrada sem asfalto que me foi indicada e lá achei placas. Você pode visitar a cachoeira véu da noiva.Muito linda !


Seguindo a pé
Rio Tibagi vista da cidade
 E ainda seguir até o canyon. Foi o que fiz . Lá, quase na chegada de uma vista do canyon foi preciso deixar a moto e seguir a pé pois havia erosão na bitola da estradinha atrapalhando a passagem. No caminho até lá cruzei com muitas cachoeiras e quedas d`água. Sempre com aspecto límpido e natural. Percorri um trecho de 22 km por dentro de propriedades rurais de porteiras abertas.

Canyon em Sengés
Cascalho adentro
 Muita subida e descida no cascalho mas que valiam a pena pela natureza . O canyon é belo , um rochoso imenso e solitário.
Sengés
 Depois desta aventura voltei para Itapeva , uns 60 km , pois iria pernoitar por lá na casa de meu amigo Salvador . Ele e sua família me acolharem muito bem na chácara a 2 km da cidade. Um lugar também muito bonito e cheio de pássaros. Pela manhã , acordei com o canário da terra cantando em cima do poste de cerca. Saí de manhã , não tão cedo mas já incorporando o espírito da viagem.
Casa em Itapeva do Salvador


Escolhi seguir por um caminho diferente . Segui rumo à Ventania e iria chegar direto à cidade de Tibagi, sem passar por Castro. Rodei estradas muito ligadas à plantações de madeira. Basicamente o visual era de pinheiros , eucaliptos e as familiares araucárias. Chegando perto de Ventania notei algo impressionante, como venta naquela região ! 
Imaginei que aquelas planícies de árvores infindáveis favoreciam a passagem de mares de vento. Cruzando caminhões minha sportster ficou pequena com as rajadas de vento . Levei verdadeiras surras de vento ao cruzar caminhões de madeira. Nada assustador mas algo que deve deixar o motociclista atento. Pedi muita informação em postos de abastecimento, a cada abastecida confirmava o caminho e não houve dificuldade com as placas de orientação.

Estrada de vento perto de Ventania
Cheguei em Tibagi depois do horário por mim programado , já era tarde para marcar um passeio e cedo para ficar a toa na cidade. Fazia muito calor e me hospedei no hotel Katito. Um hotel de viajantes , preço confortável e pouco luxo. Existem outras opções na cidade mais caras e mais bucólicas em pousadas de fazenda. Muitos preferem ficar em Castro.

Caminho das cachoeiras em Tibagi
Mirante em Tibagi
Decidi conhecer a cidade e as cachoeiras . Aproveitar o tempo livre.



Tibagi

Museu de Tibagi
 Passei pelo museu de Tibagi e descobri que a cidade foi importante na busca de diamantes. Suas casas lindas e muito bem desenhadas são um reflexo do passado e a atual economia de grãos . Um fotógrafo pode se divertir fotografando as casas em Tibagi.Tudo muito pitoresco.  Conheci o centro de artesanato da cidade onde comprei umas lembrancinhas para casa.Visitei o centro de informações turísticas e programei meu passeio ao parque no dia seguinte. Pelas orientações fui a caminho das cachoeiras no mesmo dia. Foi que aconteceu minha primeira derrota pois desisti depois de 3 km de estrada. Uma estrada de pedras que pelas variações de pista judiavam muito da moto . Eu sinceramente , mesmo depois de outras muitas estradas de terra que passei , aquele trecho eu não iria mais. Pensei comigo , nenhuma cachoeira vale essa tortura. Voltei contrariado mas esperançoso para o outro dia.

Restaurante na Praça de Tibagi
A cidade possui dois mirantes para o rio Tibagi  que a rodeia. Muitas casas bonitas e muito bem decoradas com ótimo acabamento. O lema da cidade é "a melhor cidadezinha ". Compreendi o lema, é uma cidade pequena e muito bem decorada. A cidade de noite fica com a praça central bem iluminada e havia boas opções para refeição. A cidade me pareceu bem familiar e jantei em um restaurante aconchegante em frente a praça com diversas fotografias da cidade Tibagi nas paredes. A comida estava ótima.


Acordei bem cedo no outro dia e fui de moto na Agência de Turismo Guartelá pontualmente às 08:00hs. Combinado anteriormente com o Alain, na cidade todos chama ele de "o francês da agência" e me encontrei como o guia Gilberto que foi com sua moto e iria me acompanhar e guiar pelo parque atrás das pinturas rupestres. Fomos rapidinho com as motos tinindo em dia de sol , céu azul e vento refrescante. Chegando no parque Guartelá existe uma área de recepção com fotos,ilustrações, instruções e história do parque e das linhas de conservação ecológica do Paraná. Inclusive uma apresentação de vídeo . Deixamos as motos no estacionamento e seguimos pela trilha. O parque é encantador. Bonito por natureza. A vista é deslumbrante e as águas são tão convidativas que parecem um oásis dos filmes antigos das Arábias. A todo momento o visitante é lembrado da trilha marcada e do aspecto de preservação da natureza . Os caminho de madeira como palafitas ou os caminhos na pedra indicando aonde o visitante deve permanecer e sempre acompanhado por algum guia credenciado ou do parque. Tudo isto pela preservação.
 Passamos pelos caminhos da trilha básica e seguimos rumo a trilha de um dos locais que encontramos pinturas rupestres. Sempre caminhando pelo topo da montanha. As trilhas são abertas e fáceis. O rio Iapó pode ser avistado a quase todo momento pois acompanha os topos do canyon. Considerado o 6 maior do mundo em extensão.
Pinturas Rupestres
Nesta primeira trilha avistei as primeiras pinturas na pedra. Achei algo fabuloso este poder de imaginar as civilizações antigas e o que levou alguém a querer marcar com arte sua vida , sua história. Foi muito interessante e completou imensamente as lindas estradas que passei de moto. Saindo daquele penhasco segui até o mirante   da trilha longe dali  para umas fotos da cachoeira com a ponte de pedra e o rio no canyon de outra vista.  Na volta da trilha saimos um pouco pela mata e chegamos a outro local de pintura rupestre.
Canyon Guartelá

 Uma pintura grande que comentava o guia em forma de um mapa. Eu , como sou veterinário, já visualizei imediatamente a forma de um animal grande com suas costelas e o que se pensa um pontilhado especial do chamado mapa , entendi que era o fígado da caça. Muito bem posicionado e triangulado no corpo do desenho.


 O Gilberto que foi meu guia , é antigo morador da região e aquele território foi de seu avô antes de ser cedido ao governo como reserva. Sua vivência do local é de menino e muitos são os locais em que podem ser encontradas pinturas rupestres pelo parque . Porém o acesso vai ficando sempre mais difícil. Também vi fotos antigas em que mais pinturas estavam presentes porém antes dos guias do parque estarem presentes muitas pessoas invadiam o local para fazer trilhas de moto ou acampar. E sem a devida fiscalização perderam-se pinturas arrancadas por infelizes pessoas sem se preocuparem com a emoção que eu senti ao ver tais pinturas. Preservar é algo cultural.









Panelões no Canyon Guartelá
  Voltamos para a cidade juntei meus trapinhos e segui de mala e cuia para Ponta Grossa. Foi muito bacana viajar de mochileiro. Basta colocar nas costas e estou pronto para outra . Lógico que deixei a mochila amarrada como garupa . Viajar de maneira confortável é muito importânte. Cheguei 15:30 hs no Parque Vila Velha. Adivinhe qual era o último horário de visitação ? Estava saindo um ônibus para conhecer as furnas . E lá fui eu . O Parque tem estrutura bem legal . Paguei os 8 reias e pude deixar minha mala em um armário grande e limpo para seguir com a excursão. Lá também tem estacionamento gratuito e lanchonete. Um detalhe é que estrangeiros pagam mais caro o ingresso. Eu não achei ruim afinal sou brasileiro. Ruim mesmo seria o contrário.




Pepalantus

Guartelá

Parque Guartelá
Mirante do Canyon

Lagoa dourada
Furnas 1
As furnas são buracos cilindricos com cerca de 100 metros de profundidade e água até quase metade de sua profundidade. Visitei 2 furnas . Existe uma vegetação que acompanham as paredes e a beleza esta neste visual da água e vegetação em pedras. As furnas são falhas no arenito provocando as rachaduras. Bonito mesmo é a explicação da guia para a formação das águas. Parece uma mágica do David Copperfield em Las Vegas. Só ouvindo mesmo. Visitei a lagoa dourada que detém as mesmas águas das furnas , portanto o mesmo lençol freático. O local é muito bonito com peixes variados e ainda pude observar no pôr do sol refletindo o azul das barbatanas de alguns. Que bom que esta sendo preservado e valorizado. A visita aos arenitos deixei para outra vez. Necessitava ser no outro dia mas eu estava de partida ou de passagem.

Furnas 1
Voltei a Castro para conhecer a cidade. Arrumei um hotel , indicação do frentista do posto da praça, que foi ótimo. Diária de 80 reias e tinha até TV a cabo. Lógico , estacionamento fechado para minha moto. Sai de noite para jantar no restaurante Casantiga, indicado pelo pessoal do hotel. Achei muito bom o lugar . Ambiênte familiar e apesar de cheio , tinha espaço e comida deliciosa. Não pedi a lacarte porque estava sozinho e vinha muita comida. A comida por kilo foi uma fartura. Experimentei frango empanado, lasanha, bife, file pescada, feijoada, ixi . Chega ! Tudo muito bom , ainda mais para quem não tinha almoçado. O suco de morango com leite condensado foi arrebatador. Notei passeando no outro dia que a cidade tem casas muito bonitas e carros novos. Diria até que casas de valor expressivo e são várias. Caminhonete cabine dupla é o que mais vi.
Furnas
Araucaria Fêmea e Araucaria Macho


Casa da cidade de Castro
Divisa estado Represa Xavantes


No dia seguinte voltei pelo Paraná até a divisa com São Paulo em Fartura. A estrada do lado do Paraná vão piorando conforme indo para o norte mas nada se compara ao cruzar a divisa com o estado de São Paulo. Fartura e uma cidade sitiada pelos buracos melhorando lá para Avaré. Minha intenção era cruzar as pontes das represas de Xavantes (divisa de estado) e Jurumirin ( perto de Avaré). Logo depois de Cartópolis . Uma experiência ímpar , cruzar a fronteira na represa de Xavantes pela ponte com um óculos de sol polarizado. Muito bonita a represa e mais ainda com o polarizado. Ficou aquela impressão de elevação, flutuação , passando de moto . Parecia que a moto estava sendo  levitada . Tanta estrada para 5 minutos de êxtase. Mas a viagem esta na aventura e a aventura esta em viajar.  Acabei voltando pela Castelo Brando que me pareceu muito sem graça depois da aventura pelo Paraná . Mas para não ficar sem emoção meu pneu traseiro furou lá por Botucatu. Coitado do meu Metzeler tão novinho , com 2000 km e já tem um furo. 
Próximo a Fartura SP

Rodei 1700 km passeando sem procurar o caminho mais curto , procurei o caminho que me agradou. E quando ficamos com o gostinho de quero mais e que voltaria por opção ao mesmo local , para mim , significa que foi bom. Cheguei no final do dia em São Paulo para o aniversário do meu filho de 2 anos .
O Parabéns
Poderia escrever um livro de cada viagem , poderia voltar e refazer cada caminho , cada curva , poderia sentir novas emoções só de pensar em voltar as estradas planejadas pelo meu roteiro. Vou me conformar mas o espírito de motociclista pode ser um fantasma assombrando novas aventuras nunca concretizadas ou pode ser um gigante amigo que te carrega entre tantas preocupações da vida até a alegria de planejar uma nova viagem de moto. Caminhos me levem...

terça-feira, 31 de julho de 2012

A viagem de 1900 km em busca do Tabuleiro. (Publicado no site www.viagemdemoto.com.br)

A SERRA DO CIPÓ

Foi de uma semana para outra que inventei e concretizei. Fim de férias estava propicio para escapar do trabalho e rastrear no asfalto lugares a conhecer. Descobri na net a serra do Cipó 100 km acima de belo Horizonte , um lugar cheio de cachoeiras e visual de serra. Conhece Campos do Jordão ? Aquele lugar cheio de gente ... eu fui até a serra do Cipó , ao sul da cordilheira do espinhaço .Entre o cerrado e a mata atlântica. Pelos cálculos 700 km de sampa. Vi também Pedro Leopoldo que fica próximo e pensei em conhecer a cidade natal do famoso médium Chico Xavier. 
O plano era ir direto pela Fernão Dias e dormir em Pedro Leopoldo. Informações da estrada e hotéis. Na terça, véspera da viagem só tinha reservado a pousada pepalantus na serra do Cipó e não tinha certeza se ia direto a Pedro Leopoldo. Pensei em dormir no caminho. Na quarta acordei 5 hs e com a moto pronta e revisada (bateria nova) saí antes do sol raiar.
Saída de São Paulo
Primeiro notei que para chegar a Fernão Dias foi fácil mas aquela região da marginal , dutra e a própria Fernão Dias é muito carregada de caminhões o que requer uma atenção redobrada pois todos estão correndo e no ritmo sai da frente que eu tô passando. Quando parei para abastecer na estrada estava tranquilo, o pior ja tinha passado . A saida de São Paulo.
Depois a viagem transcorreu tranquila.A Fernão Dias esta uma moça lá para cima. Existem pedagios de 70 centavos cada para o motociclista. Desenvolvi a técnica do saquinho plástico com moedas. Tiro da bolsa de perna o saquinho cheio de moedas de 50 c e 25 c e pesco com a luva mesmo. O troco de 5 centavos jogo de volta no saco e volta para a bolsa de perna. Não tive problemas . Seguindo pela estrada já em Minas Gerais notei a mudança cultural e a extrema curiosidade do mineiro com a moto. Ouvi perguntas como : "Essa Haleydavisss é original ? " e sempre "De que moto clube vc é ? ", também tem a especialidade dos frentistas mais jovens , "me dá um adesivo !" , sempre achando que vou dar um adesivo de moto clube. Coisa que nem conheço pois não vivo esta situação de moto clube. Francamente isso cansa um pouco. Lá no Cipó fizeram uma fila para tirar foto com minha moto. Que coisa ! E eu buscando a simplicidade da viagem tipo mochileiro e da Sportster como uma moto estradeira. 
Dali viajei direto . Cheguei em Belo Horizonte e não gostei do trânsito. Tive de ir no corredor em alguns trechos na região de Betim. Fora as placas. é preciso fazer uma adaptação ao Código de Trânsito para passar em BH. As placas ficam após a entrada. Sim , após a entrada. Se for analisar como uma partida de futebol em uma linha de impedimento. As placas estão em impedimento e você percebe que perdeu a entrada quando continuou reto. Outro fator que me deixou intrigado é a palavra RETORNO. Quando você deve seguir a estrada , continuar o caminho sem virar , eles mencionam seguir no RETORNO. Bom , na volta eu acostumei até errar a entrada duas vezes. Enfim estranhei Belo Horizonte mas segui direto para Pedro Leopoldo. 
A Casa de Chico Xavier
A pista do casarão  
Naquela cidade minúscula, vizinha de BH. Notei a simplicidade junto a grande dificuldade de estacionar. Escolhi logo 1 dos dois hoteis da cidade que tinha estacionamento. A moto precisava mais do que eu. Muitas coisas agregadas a ela como bolsas , suportes de camera, de GPS, porta óculos. Se eu fosse tirar tudo para guardar seria algo muito desagradável. Fiquei no hotel Tupiguá. Os dois hoteis são um em frente ao outro . O pessoal do hotel Tupiguá foi muito bacana e associaram gentileza a serventia de guia turisticos. Principalmente o pessoal da recepção. Se não fosse por eles eu demoraria muito a achar os pontos turísticos da cidade. Fui a casa de Chico Xavier . Era a casa em que viveu e ficou para a sua sobrinha e por fim comprada por um empresário que patrocina a manutenção do lugar para visitação e exposição digital de todas as obras do Chico. Estão saindo mais livros pois dos 500 que se fala , já esta chegando nos 600. Muita coisa estava pronta e guardada. Existe um tablet gigante na casa que com tela touch você navega por todas as obras nos manuscritos de caligrafia original. Belo trabalho ! A casa é linda e florida com uma energia ótima . Muito agradável. Vale a pena. Visitei também o centro espírita que ele fundou e fui atrás do que eu mais queria conhecer. O local do primeiro encontro do Chico com   Emmanuel , o seu companheiro espiritual de trabalhos mediúnicos. Eu achei pela pista do casarão . Fica fora da cidade. Estranho eu achar sem GPS mas estranho mesmo é o posto em frente nem saber do que se trata quando perguntei. Isto porque no local a prefeitura esta contruindo um memorial ao Chico. As obras estão lá. Será bonito mas não tive uma boa impressão da cidade por banalizar ou pouco valorizar para o turismo. Não fosse o hotel...  uma região bem no começo da cidade onde o rio entra na área urbana. Infelizmente já existe população ribeirinha com esgoto aberto. Uma pena para o turismo da cidade e para o brio de seus governantes. De fato lembrarei sempre de Pedro Leopoldo pela sua poluição do ar. Afinal , após a viagem de ida , piorei da gripe e respirava sibilosamente. Soube lá que meu filho menor estava com pneumonia em São Paulo. Eu estava também muito provavelmente. Naquela noite não consegui ir ao convite da casa de Chico para um evento musical e fiquei no hotel respirando mal mas com minhas habilidades veterinárias pude comprar antibiótico para minha pessoa. Dia seguinda segui o cronograma. O pessoal do hotel queria até que eu ficasse mais um dia para recuperar mas queria respirar melhor em outro local longe da poluição. Sai de SP não foi para verificar fumaça por ai. Segui para o Cipó. Não posso esquecer de mencionar o restaurante que me indicaram , o do Edelso, que comi uma comida tão boa ! Pedi uma refeição e que capricho de tempero. Sabor era tudo. Dica do hotel, oras !
Pousada Pepalantus

Já no Cipó . Esse lugar que falo fica em Cardeal Mota. Não é uma cidade , não tem posto de gasolina , mas tem cemitério e escola estadual, rsrs , além de muitas pousadas. Lá eu respirei melhor , tomando meu antibiótico melhorei um pouco e animei. Fiquei preocupado se precisaria voltar por estar ruim mas como ia voltar ? De pouquinho em pouquinho ? Na pousada Pepalantus , que é o mesmo nome da plantinha branca que existe na serra , passei 2 dias muito agradáveis. As estradas são ótimas para moto. O ar era gostoso. Quente de  dia e só esfriava um pouco a noite. O quarto da pousada era mágico. De noite ficava quente, nem cobertor precisei , friorento como sou. Acho que vale a pena passar uma semana lá sem nada fazer. 



Dia do Motociclista

O pessoal deste lugar sempre muito amistoso. De repente você tem amigos na cidade. Descobri que a bicicletaria vende gasolina, que a farmácia vende ate guarda chuva, que o mercado tem laticínios e os restaurantes... são ótimos. Na primeira tarde que cheguei comi numa padaria bem clean dois salgados que estavam uma delícia. De noite , com a indicação do Flavio , dono da pousada www.pepalantus.com.br , comi o PF desta mesma padaria . Conhece o bom e barato ? Foi lá . Mais uma vez o que chama a atenção é o sabor. Será que eu tinha tanta fome assim ? Haviam cães neste lugar que era aberto e pessoas simples da região. Com um clima familiar . Até alimentei com carne um vira-latas simpático do meu lado na mesa. Mas ele foi muito educado ao meu lado durante minha refeição.

O Detalhe que este local que fiquei tudo fica na mesma rua. Existe uma casa para informações turísticas que também fui bem recebido. Você pode contratar guias se quiser.
Me programei para no dia seguinte dedicar a grade aventura de visitar a cachoeira do tabuleiro. O vilarejo do tabuleiro fica na cidade de Conceição do Mato Dentro. Tanto o nome quanto o local parece obra de Jorge Amado. 
Sai meio tarde e segui pela manhã pela estrada que achei a mais proveitosa da minha viagem. Passando por entre montanhas rochosas, trilhas da estrada real feitas de pedra ( para caminhadas) segui por um asfaldo que iniciava com gomos e permanecia firme e seguro subindo a serra do Cipó. Acompanhava em meu relógio a altitude e quando cheguei suavemente aos 1230 metros cheguei a chamada estátua do Juquinha. Essa estátua foi feita em homenagem a um andarilho que vivia na região e após sua morte foi feita a estátua envolvendo um mister da sua presença na serra. Continuanto a estrada segui mais 60 km até Conceição. Nesta parte foi emocionante pela beleza a região sem igual. Desculpem evitar fotografias mas parar a moto perdia o encanto . Ouvindo U2 lembrei que era dia do motociclista e fiz a foto ao lado para comemorar. Me dei conta que esta no dia D e no local X , com música de fundo. Era como estar em um filme daqueles em que você deseja ser o mocinho. 
Chegando em Conceição abasteci ! Ufa. Se pensar que minha moto só anda 200 km com um tanque ...  


Estátua do Juquinha




Estrada para Tabuleiro

 Mas foi ai que começou a parte de aventura. Saindo de Conceição segui em estrada de terra para o vilarejo do tabuleiro. Local onde se situa a cachoeira do Tabuleiro , terceira maior do País e mais bonita segundo o guia 4 rodas. Existem placas mas sempre depois de você adentrar a estrada portanto é preciso perguntar para achar. Após a estrada de terra cheguei no vilarejo com varios caminhos de trilhas para moto e caminhantes. Perguntei muito sobre a entrada do parque da cachoeira para turístas e moradores. Surpresa minha foi que após o vilarejo só moto de trilha. Ninguém avisou. Cheguei no ponto em que quase cai atolando no areião e com certa sorte com habilidade emergencial continuei em uma subida muito boa para ir de moto tornado . O fato é que cheguei nem sei como. Lá na entrada do parque tem estrutura . Água, banheiro e um papel para assinar isentando responsabilidades do parque sobre sua futura loucura de descer amontanha até a  cachoeira. Bom , demora para descer e pulando de pedra em pedra ara subir o rio cerca de 1:45 min e depois mais de 2 horas para voltar. Afinal é subida. Trilha só no começo. Depois  é escalada mesmo. Sapato apropriado é necessário e se possível luvas. Me dei bem  com a moto. O pessoal do Parque Estadual da Serra do Intendente que estava de tornado queria conhecer quem foi de Harley até lá em cima. Mas como escalador eu me estrepei. Para voltar , na subida acabou a minha água e acabou o meu fôlego. Foi muito difícil e só continuava porque ninguém pode te tirar de lá de baixo . Só você mesmo. Recebi ajuda de dois mineiros de Conceição que visitavam o local com as esposas . Eles me deram água na minha subida e terminaram a escalada comigo pois ficaram preocupados. Veja , se você escorregar e cair. Vai descer rolando e até que alguém  saiba já anoiteceu. Também recebi ajuda para a volta de moto. Eu fui na frente e se caisse o pessoal viria em seguida para me ajudar a levantar a moto na ladeira e no areião. Melhor não cair ! A cachoeira é algo deslumbante. Subindo o rio de pedra em pedra pode ser vista pouco a pouco se aproximando em um imenso vale que termina em meia lua. A água cai e se desfaz no ar umidecendo as pedras que estão bem abaixo precipitando a água que escorre em um oasis de água fria como um verdadeiro lago de 18 metros de profundidade. O vento esta presente neste local acredito que pelo paredão da montanha que é muito alta . São 273 metros.


Cachoeira do tabuleiro

Então depois de ficar com as pernas em estado lastimável eu voltei. Preocupado em passar por Tabuleiro de dia consegui e cheguei em Conceição quase anoitecendo. Ainda precisava passar pela serra na minha estrada favorita mas seria de noite. Foi outra experiência perigosa mas proveitosa. O frio se manifestou logo que cheguei lá em cima. Estava sem segunda pele por baixo do casaco e senti falta. A iluminação de minha moto é algo deficitário. Muito carros passaram por mim e quando não tinha olho de gato na estrada ficava perigoso. Resultado foi a velocidade baixa. Um conforto que eu tinha era estar sem bota e poder encostar o calcanhar no escapamento quente. Esquentava o sangue sem me queimar e considerava aquilo um conforto para minha perna direita. Naquele breu total que se instalava quando sumia algum carro que aparecia , o ronco da Harley era o grande companheiro.Diferente de mutas estradas do interior paulista não havia buracos na pista e cheguei são e salvo a pousada Pepalantus. Exausto e com dores musculares dormi muito bem.
No outro dia só relaxei até a hora do almoço em que parti iniciando a volta.
Museu de Arte na Pampulha
Parei em BH pois passei em cima do lago da Pampulha. Fui até o museu de arte, conheci a capela e notei tudo muito bonito mas o cheiro de esgoto é muito forte. Segui rumo pois pensava em dormir em São João Del Rei. E aconteceu de novo. Passando pela capital das placas erradas segui, já na estrada,  uma placa que dizia para entrar a direita. Mas era aquele conto do retorno que ja mencionei. A estrada já virava naturalmente para a direita e assim foi que a placa dizia para virar a direita . Acontece que ali havia uma saida da estrada . Entrei e me estrepei pois subi o viaduto estranhei a direção mas com a pressa que estava para não chegar de noite , olhei no gps e ele se adaptou disse para seguir. estava ali me afastando da MG-040 e quando percebi chegando o fim do dia mudei o destino para Ouro Preto pois não queria viajar de noite. Isto só iria atrapalhar a volta pois estaria muito longe de São Paulo para fazer em um dia quando já estava cansado da cachoeira do Tabuleiro. 



Em Ouro Preto o cacife tem que ser maior. Os hotéis são caros e no posto de informação turística começou em 500 reias a diária. É de cair o queixo. Mas com paciência acharam para mim uma pousada po 110 que pudesse abrigar minha moto . Não dava para deixa-la na rua . Acabou que estacionei na garagem da vizinha da pousada. A diferença de pousadas foi gritante. Não gostei da pousada mas me serviu para dormir mesmo com o strado da cama quebrado. Internet dizia que tinha mas não tinha. Fez falta pois todas as noites eu usava o skype para ver a família.
 De noite fui conhecer a cidade que parecia uma final de copa do mundo. Gente na rua , seresteiros , violão para todo lado e muitos restaurantes e lojinhas. Tirei fotos noturnas , comi muito bem em um restaurante de 15 reais e coma o que puder. Comprei uma goiabada cascão de notei que as igrejas fecham e o povo sai as ruas.
No outro dia de manha parti logo após o café da manha. Mais uma vez não errei o caminho e fui parar em Mariana. Voltei e percebi que para viajar em Minas é preciso ligar o google maps a cada suspeita pois desta vez a placa estava todo pixada e eu não vi. Andei 40 km a mais.
Por fim achei a entrada para a estrada real de ouro Preto até Ouro Branco. E foi linda em paisagens . Asfalto bom. Dai por diante não fiz fotos estava com muita pressa para chegar a São Paulo . Rodei os 650 km num tiro só. Fui até lavras , passando por São João Del Rei  e sai da estrada Real para a Fernão Dias. Cheguei bem cansado em extrema mas persisti corria contra o tempo evitando o crepúsculo. Como o motoqueiro cinderelo. Em Atibaia havia um acidente e começou o trânsito. Vi minhas chances de chegar de dia indo pelo ralo. Iniciei dali até Mairiporã a viagem pelo corredor de carros. Greve de caminhões ? Não , volta as aulas  talvez. Assim terminei a jornada a 40km/h irritando outros motoristas. Em todo o trajeto o único momento de eminente acidente foi na chegada em São paulo quando na entrada da Fernão Dias para a Dutra os motoristas freiaram bruscamente levatando muita fumaça e eu quase não consegui parar mesmo com muita distância. Usei o acostamento e o famoso "pensa rápido".
Foram assim que completei os 1900 km rodados de Quarta-Feira até Domingo . Foi um passeio que despertou a iniciativa e o desenvolvimento do espírito de aventura e algo que existe entre os motociclistas em diversos graus de paixão pelo desconhecido , pela liberdade e pela interação que pode existir entre um ser humano e uma máquina. O sentimento explica qualquer hipótese mas somente motociclistas que viajaram podem entender.