sábado, 28 de junho de 2014

De São Paulo ao Uruguai em 5000 km.

Copa do mundo marcada no Brasil e eu acelerei para o Uruguai.


     Saímos no dia 12 de junho , dia inicial da copa pela facilidade de um quase feriado. Partindo de São Paulo de madrugada para atingir o sul do Brasil. Com o inicio do inverno, já era sabido que o frio seria companheiro de viagem e o preparo foi antecipado. Roupa de baixo conhecida como segunda pele, blusas de forração , casaco de motociclista e a grande amiga das chuvas e ventos , a capa de chuva. Logo no inicio da Rodovia Regis Bitencourt tive de colocar a capa de chuva pela garoa. Com o desenrolar da viagem o tempo melhorou e foi possível até curtir a tão temida serra do cafezal , que estava em obras, mas com uma paisagem linda iluminada pelo sol e céu azul. Estávamos em duas motos e o nosso objetivo era atingir a cidade de Tubarão em Santa Catarina. Chegamos a noite , foram mais de 800 km para o primeiro dia. Chegamos durante o jogo do Brasil. Cidade vazia e o Hotel que ficamos, todos assistiam a copa.
Tubarão - SC

Pesca do Camarão em Laguna - SC

Dificuldade do segundo dia a caminho do Uruguai.

Segundo dia pretendíamos Santa Vitória do Palmar pois ficava bem próxima do Chui mas optamos a estrada que passa entre a lagoa dos patos e o oceano, fomos até o final da BR-101. Seria melhor aventura ir de balsa em uma estrada cênica. Descobri uma estrada precária, cheia de trechos esburacados e os trechos que se valiam de asfalto liso faziam bolsões de água na bitola da roda de caminhões. Defeito de pista que ali tem muito. Isto aliada ao frio de 5C e uma forte chuva que nos assombrou batendo de frente no trecho final de 200 km até a balsa de São José do Norte . Foi estressante pois não havia nenhum abrigo ou posto. Determinado momento em que tive problemas com minha viseira que embaçava muito apesar do pinlock só consegui abrigo em um ponto de ônibus no meio da estrada para arrumar o capacete sem molhar muito.  Foi, sem dúvida, o pior dia de viagem por ser mais sofrido. Mas não menos divertido. Vai entender ! Chegamos debaixo de chuva e mãos congeladas a São Jose do Norte, achamos a última balsa para o Rio Grande. Ela partia em minutos  e atravessamos a lagoa anoitecendo. Como sempre motos e receptividade local viajam juntos e a tripulação que tinha um participante de motoclube da região nos deu novas dicas como a de não seguir viagem pela reserva do Taim pois estava anoitecendo e o perigo de animais na pista era grande. Aportamos no Rio Grande, a cidade que notei mais o sotaque gaúcho. Neste trecho minha polaina rasgou e molhou muito minha bota. Grande idéia do meu colega Fábio , assamos a bota no forno do hotel. Secou ! Incidentes do improviso. Dia seguinte antes da partida , loja de acessórios de moto para comprar antiembaçante e polaina nova , novos amigos , novas dicas. Preços muito parecidos com as lojas em São Paulo. A moto com malas é sempre um cartão de visita e de apresentação.
Não entre sem camisa diz a placa

Balsa São Jose do Norte

Balsa


Free Way - Osório - RS

Secagem das botas no fogão em Rio Grande - RS


A fronteira

Partimos meio tarde para o Chui passando pela reserva do Taim em sol com céu de brigadeiro.  Vislumbramos por alguns kilometros aquela região rica de natureza com uma área pantanosa e muitos pássaros. Diversos animais mortos na pista . Muitos deles eram capivaras. Estranhamente havia uma coloração azul e verde nos corpos como uma tinta , de início achei que era algum tipo de bolor mas depois larguei esta idéia. Ainda não sei quem pintou parte dos animais mortos na pista parecia uma espécie de controle de marcação. Chegando ao Chui parada na fronteira para cambiar nossa moeda em pesos uruguaios , na fronteira fizemos a entrada na imigração uruguaia documentação da moto em nome do condutor, RG ou passaporte. E , é claro, pesos. Mas notei na viagem que dólar é muito bem aceito e o real também, principalmente em Montevidéu .
Com o tempo escasso pela programação , adentramos no país irmão pela Ruta 9, dirigindo nesta ótima estrada,  passamos pelo forte Santa Tereza para fotografar. Local muito bem arrumado e de valor histórico impressionante. Quadros, artefatos como armas de fogo, espadas, uniformes  militares e as perfeitas maquetes de tantas fortificações uruguaias da colonização. Conservação da grama até as paredes do forte impressionam. Foi como voltar no tempo e vivenciar a dificuldade e bravura da época. Fotografar o Forte foi tão fácil como dirigir nas estradas uruguaias. Um local secular com aparência de novo.

Fortaleza Santa Tereza
Pista de pouso na Rodovia






Uruguai cultural

Seguindo o dia passamos por La Paloma. Ali abastecemos e visitamos o farol ao entardecer. O visual foi muito bonito. Pôr do Sol e farol (El Faro em espanhol) no Uruguai é a combinação perfeita. Abastecemos e chegamos de noite em Punta Del Leste. O frio vinha mais intenso ao entardecer , eu sempre colocava a capa de chuva para manter o aquecimento dirigindo a moto.  
Nosso hotel em Punta já estava reservado, tive a ajuda de um GPS de moto para chegar aos locais. Tive algum tipo de confusão com o nome de ruas e o idioma mas confesso que sem o aparelho seria bem mais difícil. Talvez mais demorado. Neste fim de dia iniciamos nossas aulas de espanhol pois para comer e abastecer as motos hablamos portunhol mas não entendíamos o espanhol falado mais rapidamente. Nada desencorajador apenas detalhes. Nota-se grande empenho dos uruguaios em comunicar-se com os brasileiros . A distância do idioma não é um problema para conhecer o país. No dia seguinte saímos a pé conhecer os locais próximos , monumento do afogado na praia brava , fotografar os dedos gigantes e depois o porto de Punta que tem todo um ambiente todo preparado para turistas junto a marina . Ali um pequeno mercado de peixes a beira das águas se torna um ponto turístico com a alimentação dos leões marinhos pelas rebarbas de peixes já vendidos. Pareciam até pertencentes a um parque aquático de tão acostumados recebia o peixe diretamente da mão do turista que libera uma gorjeta ao vendedor de peixes.  Depois seguimos de moto até a Casa Pueblo. Local turístico que é a casa do artista uruguaio Carlos Páez Vilaró. Seu atelier demorou 36 anos para ser construído e tem arquitetura diferenciada. Nossas motos foram muito bem recebidas em um estacionamento do local e mesmo com malas amarradas fiquei bem tranquilo pela hospitalidade do guarda que tirou até foto da moto. O lugar é emocionante com pinturas , esculturas , livros e um pequeno filme de 20 minutos em que o próprio artista relata suas experiências. Arte e história se fundem em um só lugar. Não é possível fotografar lá dentro mas dali que notei a paixão pelo sol em muitas obras e também na cultura uruguaia pois até a bandeira do país tem um sol.

Punta Del Leste


Casa Pueblo










Porto de Punta del leste

La Paloma
Monumento ao Afogado

Punta del Leste


Montevideu, a cidade grande

Castelo de Pittamiglio
Palacio Salvo
Seguimos pelas estradas de asfalto aveludado para Montevidéu. A capital. Mas antes conhecemos Piriápolis , cidade de praia onde almoçamos com ótimo atendimento um delicioso Chivito, um sanduiche de carne  servido no prato com batatas e salada russa. Depois seguimos para o castelo de Pittamiglio , antigo alquimista e arquiteto uruguaio, construído em 1956. Em Piriápolís é possível contratar guia turístico para visitação acompanhada.
Chegamos de noite em Montevidéu , nosso hotel central não tinha estacionamento , assim deixamos a moto em estacionamento próximo. Passamos o dia seguinte conhecendo a cidade grande a pé. Mas nem por isso deixou de ter charme os monumentos e locais turístico que nos esperavam. Conhecemos Teatro Solis e o conhecido Palácio Salvo na Praça da Independência que foi construído em 1925 . Na época era o prédio mais alto da América do sul, continua majestoso. Seguimos através de um portal pelas ruas de pedestre com feira livre com até o Mercado do porto. Um local turístico com  aulas de tango, artistas plásticos e comércio. Almocei dentro do mercado. Me animei e até comprei uma tela. O ambiente era  limpo e a receptividade que já estava me acostumando. Churrasco e frutos do mar foram nosso almoço mais que bacana. O vinho para acompanhar, claro. Interessante que em mercadinhos perto do hotel é possível comprar vinhos bons e baratos. Era tentador ! Mas estávamos de moto e não de van.



Aula de tango no Mercado do Porto

Obra no Museu Nacional

Fonte dos cadeados


Castelo de Pittamiglio






Queríamos vinho

 No outro dia seguimos para conhecer vinícolas . Saímos de Montevidéu com neblina e muito frio mas antes passamos pela Fonte dos cadeados. Uma espécie de fonte dos apaixonados que ali colocam um cadeado com as iniciais do casal. Bem próximo há uma loja de ferragens muito conveniente. Seguindo para Canelones existem diversas vinícolas. Dentre as escolhidas , conseguimos marcar uma degustação na vinícola Bouza. Ali visitamos a propriedade , aprendemos sobre as uvas e degustamos . Acabei trazendo 2 garrafas. Lembrancinha. As estradas de terra para as vinícolas são bem tranquilas. Seguimos para Colonia Del Sacramento.


Vinicola Bouza
Vinicola Bouza







Rio de la Plata








Pier de Colonia Sacramento

Mapa em azulejo de Colonia a Buenos Aires






Rio de la Plata / Farol e navio ao fundo
Colonia




Lindinha !






Uma cidade que deixa saudades

Chegamos em Colônia como programado antes do entardecer. Cidadezinha que cresce e mantem um ar de nostalgia . Semelhante a cidade de Parati no Brasil possui uma parte antiga que é magnifica. Mas nem tanto como seu pôr do sol que visto do mirante de pedras, afunda no Rio de La Plata. Um estarrecedor efeito de luzes  esparramadas ao céu borrando cores vivas e cativantes. Difícil explicar mas valeu toda a viagem de moto. A cidade possui o Buquebus que liga o Uruguai a Argentina em Buenos Aires. Outro roteiro interessante.
Mas o que atraia muito mais naquele momento era passear por Colonia del Sacramento. Voltar no tempo e sentir nas ruas de pedra, nos bancos e nomes de rua em azulejo , nas luminárias de estilo colonial uma retrospectiva do que foi e do que restou de outro período histórico do país Uruguai. É o centro velho de Colonia del Sacramento com bares e restaurantes a meia luz parecidos com iluminação de velas. Muitas fotos , muitos cães sem dono que se misturam aos turistas estrangeiros. Interessante que estes cães do centro velho adotam os turistas como donos e seguem como se fossem guias por um longo período. Nossas motos maiores se destacavam entre tantas motos pequenas. Colonia possui tantas motos tipo scooters que me marcou . Nunca vi tanta gente de scooter . Tem dos moradores e de aluguel. Perguntei ao gerente do hotel e ele me explicou que todos tem moto para se locomover. Realmente são muitas motos paradas pela cidade. Colonia tem junto do visual antigo muitos locais de compra e restaurantes. Muitos estrangeiros passeiam pelas ruas. Ficamos no Hotel Rivera em Sacramento que acompanhou em charme e hospitalidade o visual da cidade. Com todo aquele frio de inverno Uruguaio , quarto aquecido foi fundamental .
Buquebus
Compras em Rivera - Uruguai
Dia seguinte voltamos em direção ao Brasil seguindo para Rivera fronteira com Santana do Livramento,  Brasil . Maior parte de estrada pela Ruta 5 , planícies livres, verdes e ensolaradas.  Em Rivera o forte são as compras. As motos passearam pela cidade para ir a imigração na saída do País. Aproveitamos para fazer compras. Pelo que vi o forte são roupas e bebidas.
Durante a viagem no Uruguai , não tivemos problemas com postos de gasolina. Minha autonomia era maior que  a moto de meu amigo. Com isso abastecíamos a cada 200 km mas sem dificuldades. Em nenhum momento pediram nossos documentos , somente na entrada do País. Também não usamos colete reflexivo que parece ter sido instituído legalmente mas só vi alguns motociclistas locais em Montevidéu usando. Chegamos em Santana do livramento de noite e quando digo noite represento o frio que congelava muito mais com o final do dia. Três calças e 4 camisas mais capa de chuva para suportar os 120 km/hr de moto no frio em média de 7C. Mas não foi tão ruim . Foi muito lindo de paisagens e estradas convidativas para motociclistas. Liberdade !

Colonia
Colonia
Colonia

Os postos de gasolina no Uruguai oferecem uma gasolina 97 e uma 95 octanos. O preço muda um pouco mas não sentimos diferença no consumo em ambas as motos. A diferença foi sentida em relação a gasolina brasileira. O preço na bomba esta em pesos mas é possível pagar em real , cartão ou dólar. 





Colonia del Sacramento







Energia eólica no Uruguai

Uruguai

 Serras Gaúchas

Nossa volta pelo Brasil até São Paulo incluía serras gaúchas. De santana percorremos até Porto Alegre e pousamos em São Leopoldo e parecia que estava mais frio que no Uruguai. Passamos por Gramado e Canela onde conhecemos a cachoeira do Parque do Caracol e a Parque Vale da Ferradura com um visual incrível do mirante para um cânion de mais de 400 metros e o rio "Cai" seguindo o vale com forma de ferradura. Saímos de Canela com destino a BR -101 e passamos por outra paisagem inesperada . Na RS-486 uma serra imensa vista por um mirante de restaurante na estrada , acompanhamos final do sol percorrendo o cume das montanhas . Esta estrada também nos foi muito atrativa tanto pelo visual como pelas suas curvas acentuadas e diferentes. Ao exemplo de 2 curvas 180 graus dentro de túneis na montanha. Nesta estrada também existem diversos restaurantes . Como era dia de feriado nacional , gramado estava cheio mas na 486 não. Serra que assemelha-se a do rio do rastro , estava quase deserta mesmo no feriado. Boa dica de passeio. Seguimos nela até a BR-101 e nesta de noite até Florianópolis . No último e décimo dia chegamos a São Paulo de malas cheias, motos sujas , espíritos exaltados e 5000 km a mais no odômetro da moto.



Canela - RS



RS-486


RS-486 km 8
Minhas impressões 

Adorei o Uruguai ! Paisagens , boas estradas , boa comida, bom vinho, hospitalidade. Pilotei de dia , de noite e mesmo com a dificuldade do frio de inverno e do vento, tinha o sentimento de não ser a minha última visita de moto àquele país. Fiquei familiarizado com a paixão pelo desenho do sol que lá vi , me emocionei com a arte e a história e ainda estou com a impressão que toda moto gostaria de viajar pelo Uruguai. Vi um céu de azul diferente com o sol sempre presente pela iluminação. Pilotar pelos pampas ver cavalos e vacas pela paisagem e perceber que estão também na arte e na cultura do povo Uruguaio foi uma das impressões  desta viagem de moto. Percorri estradas litorâneas que tinham o mar como visual e davam o formato de suas curvas. Praia e campo se fundem pela proximidade. As distâncias são curtas nas viagens mas a imensidão dos campos sem visual de limites geográficos parecem de uma terra sem fim. Quando alguém for de moto ao Uruguai, no verão ou no inverno, já sei o que ele vai sentir.
Forte Santa Teresa


Casa dos Pueblos












Colonia del  Sacramento

Praça de Los Toros

Parque do  Caracol - Gramado -RS




Parqueda Ferradura 

Rio Cai na Ferradura