quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Em algum lugar do passado ( Texto publicado na revista Moto Adventure Fev/2013)

A procura das pinturas rupestres

Final de feriadão (Proclamação da República) ganhei meu alvará de soltura conjugal-familiar para mais uma aventura motociclistica pelas estradas que me fossem atrativas. Pesquisei alguns lugares e achei interessante a proposta de visitar Castro no Paraná. A proposta seria visitar a cidade e o canyon do Parque Guartelá bem próximo a cidade de Tibagi. Neste parque oficializado em 1992 como uma área de preservação do Estado do Paraná estão as famosas pinturas rupestres que eu estava procurando visitar há algum tempo. Junto de formações rochosas de arenito, passa pelo canyon o rio Tibagi. Aventura para os visitantes. Vários passeios podem ser programados com equipe especializada.
Estrada no PR com rios por toda parte.
Saí em uma Segunda-feira entre feriados o que facilitou um pouco o trânsito. Segui com destino a divisa de estado entre Itararé (SP) e Sengés (PR) pois achei algo que me interessava. Localizei nas fotos do google maps um outro canyon entre estas duas cidade. A dificuldade é que a região não esta bem explorada para o turismo. Apenas os moradores locais tem o hábito de frequentar a região para lazer entre cachoeiras. Naquele local a internet nem sonha em funcionar por isto tive de perguntar dicas aos moradores.Nada de consultas tecnológicas.

Canyon em Sengés

Minhas impressões da estrada até Itapeva (SP) foram muito boas. Apenas a imagem ainda não era agradável ao turista viajante de moto. Eu particularmente procuro o céu azul e visual de campos ao lado de uma estrada muito bem asfaltada e vazia . Minha particular utopia. Mas foi o que eu encontrei passando Itapeva (SP) . A estrada estava ótima e as paisagens só melhoravam. A diferença de antes de Itapeva estava no comércio de beira de estrada que deixava minha utopia um pouco poluída . Chegando em Sengés segui por uma estrada sem asfalto que me foi indicada e lá achei placas. Você pode visitar a cachoeira véu da noiva.Muito linda !


Seguindo a pé
Rio Tibagi vista da cidade
 E ainda seguir até o canyon. Foi o que fiz . Lá, quase na chegada de uma vista do canyon foi preciso deixar a moto e seguir a pé pois havia erosão na bitola da estradinha atrapalhando a passagem. No caminho até lá cruzei com muitas cachoeiras e quedas d`água. Sempre com aspecto límpido e natural. Percorri um trecho de 22 km por dentro de propriedades rurais de porteiras abertas.

Canyon em Sengés
Cascalho adentro
 Muita subida e descida no cascalho mas que valiam a pena pela natureza . O canyon é belo , um rochoso imenso e solitário.
Sengés
 Depois desta aventura voltei para Itapeva , uns 60 km , pois iria pernoitar por lá na casa de meu amigo Salvador . Ele e sua família me acolharem muito bem na chácara a 2 km da cidade. Um lugar também muito bonito e cheio de pássaros. Pela manhã , acordei com o canário da terra cantando em cima do poste de cerca. Saí de manhã , não tão cedo mas já incorporando o espírito da viagem.
Casa em Itapeva do Salvador


Escolhi seguir por um caminho diferente . Segui rumo à Ventania e iria chegar direto à cidade de Tibagi, sem passar por Castro. Rodei estradas muito ligadas à plantações de madeira. Basicamente o visual era de pinheiros , eucaliptos e as familiares araucárias. Chegando perto de Ventania notei algo impressionante, como venta naquela região ! 
Imaginei que aquelas planícies de árvores infindáveis favoreciam a passagem de mares de vento. Cruzando caminhões minha sportster ficou pequena com as rajadas de vento . Levei verdadeiras surras de vento ao cruzar caminhões de madeira. Nada assustador mas algo que deve deixar o motociclista atento. Pedi muita informação em postos de abastecimento, a cada abastecida confirmava o caminho e não houve dificuldade com as placas de orientação.

Estrada de vento perto de Ventania
Cheguei em Tibagi depois do horário por mim programado , já era tarde para marcar um passeio e cedo para ficar a toa na cidade. Fazia muito calor e me hospedei no hotel Katito. Um hotel de viajantes , preço confortável e pouco luxo. Existem outras opções na cidade mais caras e mais bucólicas em pousadas de fazenda. Muitos preferem ficar em Castro.

Caminho das cachoeiras em Tibagi
Mirante em Tibagi
Decidi conhecer a cidade e as cachoeiras . Aproveitar o tempo livre.



Tibagi

Museu de Tibagi
 Passei pelo museu de Tibagi e descobri que a cidade foi importante na busca de diamantes. Suas casas lindas e muito bem desenhadas são um reflexo do passado e a atual economia de grãos . Um fotógrafo pode se divertir fotografando as casas em Tibagi.Tudo muito pitoresco.  Conheci o centro de artesanato da cidade onde comprei umas lembrancinhas para casa.Visitei o centro de informações turísticas e programei meu passeio ao parque no dia seguinte. Pelas orientações fui a caminho das cachoeiras no mesmo dia. Foi que aconteceu minha primeira derrota pois desisti depois de 3 km de estrada. Uma estrada de pedras que pelas variações de pista judiavam muito da moto . Eu sinceramente , mesmo depois de outras muitas estradas de terra que passei , aquele trecho eu não iria mais. Pensei comigo , nenhuma cachoeira vale essa tortura. Voltei contrariado mas esperançoso para o outro dia.

Restaurante na Praça de Tibagi
A cidade possui dois mirantes para o rio Tibagi  que a rodeia. Muitas casas bonitas e muito bem decoradas com ótimo acabamento. O lema da cidade é "a melhor cidadezinha ". Compreendi o lema, é uma cidade pequena e muito bem decorada. A cidade de noite fica com a praça central bem iluminada e havia boas opções para refeição. A cidade me pareceu bem familiar e jantei em um restaurante aconchegante em frente a praça com diversas fotografias da cidade Tibagi nas paredes. A comida estava ótima.


Acordei bem cedo no outro dia e fui de moto na Agência de Turismo Guartelá pontualmente às 08:00hs. Combinado anteriormente com o Alain, na cidade todos chama ele de "o francês da agência" e me encontrei como o guia Gilberto que foi com sua moto e iria me acompanhar e guiar pelo parque atrás das pinturas rupestres. Fomos rapidinho com as motos tinindo em dia de sol , céu azul e vento refrescante. Chegando no parque Guartelá existe uma área de recepção com fotos,ilustrações, instruções e história do parque e das linhas de conservação ecológica do Paraná. Inclusive uma apresentação de vídeo . Deixamos as motos no estacionamento e seguimos pela trilha. O parque é encantador. Bonito por natureza. A vista é deslumbrante e as águas são tão convidativas que parecem um oásis dos filmes antigos das Arábias. A todo momento o visitante é lembrado da trilha marcada e do aspecto de preservação da natureza . Os caminho de madeira como palafitas ou os caminhos na pedra indicando aonde o visitante deve permanecer e sempre acompanhado por algum guia credenciado ou do parque. Tudo isto pela preservação.
 Passamos pelos caminhos da trilha básica e seguimos rumo a trilha de um dos locais que encontramos pinturas rupestres. Sempre caminhando pelo topo da montanha. As trilhas são abertas e fáceis. O rio Iapó pode ser avistado a quase todo momento pois acompanha os topos do canyon. Considerado o 6 maior do mundo em extensão.
Pinturas Rupestres
Nesta primeira trilha avistei as primeiras pinturas na pedra. Achei algo fabuloso este poder de imaginar as civilizações antigas e o que levou alguém a querer marcar com arte sua vida , sua história. Foi muito interessante e completou imensamente as lindas estradas que passei de moto. Saindo daquele penhasco segui até o mirante   da trilha longe dali  para umas fotos da cachoeira com a ponte de pedra e o rio no canyon de outra vista.  Na volta da trilha saimos um pouco pela mata e chegamos a outro local de pintura rupestre.
Canyon Guartelá

 Uma pintura grande que comentava o guia em forma de um mapa. Eu , como sou veterinário, já visualizei imediatamente a forma de um animal grande com suas costelas e o que se pensa um pontilhado especial do chamado mapa , entendi que era o fígado da caça. Muito bem posicionado e triangulado no corpo do desenho.


 O Gilberto que foi meu guia , é antigo morador da região e aquele território foi de seu avô antes de ser cedido ao governo como reserva. Sua vivência do local é de menino e muitos são os locais em que podem ser encontradas pinturas rupestres pelo parque . Porém o acesso vai ficando sempre mais difícil. Também vi fotos antigas em que mais pinturas estavam presentes porém antes dos guias do parque estarem presentes muitas pessoas invadiam o local para fazer trilhas de moto ou acampar. E sem a devida fiscalização perderam-se pinturas arrancadas por infelizes pessoas sem se preocuparem com a emoção que eu senti ao ver tais pinturas. Preservar é algo cultural.









Panelões no Canyon Guartelá
  Voltamos para a cidade juntei meus trapinhos e segui de mala e cuia para Ponta Grossa. Foi muito bacana viajar de mochileiro. Basta colocar nas costas e estou pronto para outra . Lógico que deixei a mochila amarrada como garupa . Viajar de maneira confortável é muito importânte. Cheguei 15:30 hs no Parque Vila Velha. Adivinhe qual era o último horário de visitação ? Estava saindo um ônibus para conhecer as furnas . E lá fui eu . O Parque tem estrutura bem legal . Paguei os 8 reias e pude deixar minha mala em um armário grande e limpo para seguir com a excursão. Lá também tem estacionamento gratuito e lanchonete. Um detalhe é que estrangeiros pagam mais caro o ingresso. Eu não achei ruim afinal sou brasileiro. Ruim mesmo seria o contrário.




Pepalantus

Guartelá

Parque Guartelá
Mirante do Canyon

Lagoa dourada
Furnas 1
As furnas são buracos cilindricos com cerca de 100 metros de profundidade e água até quase metade de sua profundidade. Visitei 2 furnas . Existe uma vegetação que acompanham as paredes e a beleza esta neste visual da água e vegetação em pedras. As furnas são falhas no arenito provocando as rachaduras. Bonito mesmo é a explicação da guia para a formação das águas. Parece uma mágica do David Copperfield em Las Vegas. Só ouvindo mesmo. Visitei a lagoa dourada que detém as mesmas águas das furnas , portanto o mesmo lençol freático. O local é muito bonito com peixes variados e ainda pude observar no pôr do sol refletindo o azul das barbatanas de alguns. Que bom que esta sendo preservado e valorizado. A visita aos arenitos deixei para outra vez. Necessitava ser no outro dia mas eu estava de partida ou de passagem.

Furnas 1
Voltei a Castro para conhecer a cidade. Arrumei um hotel , indicação do frentista do posto da praça, que foi ótimo. Diária de 80 reias e tinha até TV a cabo. Lógico , estacionamento fechado para minha moto. Sai de noite para jantar no restaurante Casantiga, indicado pelo pessoal do hotel. Achei muito bom o lugar . Ambiênte familiar e apesar de cheio , tinha espaço e comida deliciosa. Não pedi a lacarte porque estava sozinho e vinha muita comida. A comida por kilo foi uma fartura. Experimentei frango empanado, lasanha, bife, file pescada, feijoada, ixi . Chega ! Tudo muito bom , ainda mais para quem não tinha almoçado. O suco de morango com leite condensado foi arrebatador. Notei passeando no outro dia que a cidade tem casas muito bonitas e carros novos. Diria até que casas de valor expressivo e são várias. Caminhonete cabine dupla é o que mais vi.
Furnas
Araucaria Fêmea e Araucaria Macho


Casa da cidade de Castro
Divisa estado Represa Xavantes


No dia seguinte voltei pelo Paraná até a divisa com São Paulo em Fartura. A estrada do lado do Paraná vão piorando conforme indo para o norte mas nada se compara ao cruzar a divisa com o estado de São Paulo. Fartura e uma cidade sitiada pelos buracos melhorando lá para Avaré. Minha intenção era cruzar as pontes das represas de Xavantes (divisa de estado) e Jurumirin ( perto de Avaré). Logo depois de Cartópolis . Uma experiência ímpar , cruzar a fronteira na represa de Xavantes pela ponte com um óculos de sol polarizado. Muito bonita a represa e mais ainda com o polarizado. Ficou aquela impressão de elevação, flutuação , passando de moto . Parecia que a moto estava sendo  levitada . Tanta estrada para 5 minutos de êxtase. Mas a viagem esta na aventura e a aventura esta em viajar.  Acabei voltando pela Castelo Brando que me pareceu muito sem graça depois da aventura pelo Paraná . Mas para não ficar sem emoção meu pneu traseiro furou lá por Botucatu. Coitado do meu Metzeler tão novinho , com 2000 km e já tem um furo. 
Próximo a Fartura SP

Rodei 1700 km passeando sem procurar o caminho mais curto , procurei o caminho que me agradou. E quando ficamos com o gostinho de quero mais e que voltaria por opção ao mesmo local , para mim , significa que foi bom. Cheguei no final do dia em São Paulo para o aniversário do meu filho de 2 anos .
O Parabéns
Poderia escrever um livro de cada viagem , poderia voltar e refazer cada caminho , cada curva , poderia sentir novas emoções só de pensar em voltar as estradas planejadas pelo meu roteiro. Vou me conformar mas o espírito de motociclista pode ser um fantasma assombrando novas aventuras nunca concretizadas ou pode ser um gigante amigo que te carrega entre tantas preocupações da vida até a alegria de planejar uma nova viagem de moto. Caminhos me levem...

Um comentário:

DENISE MASSOCO disse...

Adorei!!!! que bom poder fazer parte disso tudo, fico feliz em liberar o seu alvará ao ver o brilho dos seus olhos em cada viagem que faz!!!!